“O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.”
Fernando Pessoa
“O termo areté é frequentemente traduzido como “virtude”, mas sua real significação remete-nos à ideia de “excelência”. Cada atividade humana, prática, possui uma areté particular.” (MANIERI, D. O conceito de areté em Aristóteles. S). Areté seria a excelência por satisfazer todo o seu potencial.
Qual o potencial, o Areté da humanidade para viver com saúde e ser feliz?
Encontraremos a possibilidade de escolha sobre a finitude da vida, a imortalidade como opção, antes de chegarmos a 2050. Essa é uma previsão ousada, mas pesquisas caminham a passos largos para esse objetivo. Por outro lado, de forma oposta, a humanidade está mais doente, depressiva, ansiosa, vivendo uma epidemia mundial de doenças relacionadas à saúde mental, um adoecimento agudo do cérebro e da mente.
Qual o cerne desta questão, como priorizar a saúde, temos escolha? Sim, a perspectiva é boa e está em nossas mãos, ou melhor, em nosso próprio cérebro e em sua história de origem.
O estado ideal para a felicidade, ou para a saúde perfeita, o “solo fértil” que propicia condições para isso, é quando o corpo está alinhado, mente e emoções equilibradas. Se tomarmos por base o surgimento do cérebro, ou melhor, dos primeiros neurônios, após a revolução cambriana, período da era Paleozóica, há cerca de 540 milhões de anos, chegaremos a algumas respostas.
A vida unicelular deu lugar a organismos pluricelulares e evolutivamente a seres mais complexos, com o surgimento da encefalização, polarizando informações num polo do organismo vivo, num “cerebro”. Muitas células com inúmeras funções precisavam de gerenciamento. Eis aqui a função dos neurônios, administradores e líderes do complexo corporal (corpo, mente, emoções). Vamos da estrela do mar, ao polvo, com sua consciência, aos insetos com seus gânglios centrais, aos mamíferos, ao ser humano. O cérebro existe e os neurônios organizam o corpo, cheio de células com suas funções, equilibrando emoções e integrando o meio ambiente em que vivemos.
O cérebro é fruto de uma evolução, e só evoluiu para integrar o ambiente interno com o ambiente externo e administrar tudo isso. Ou seja, os neurônios são ferramentas para que meu corpo funcione em toda sua capacidade. Se não são usados, ou seja, para esse fim, podem enferrujar e toda a máquina pode entrar em pane, usando uma analogia.
Começamos a construir nossa saúde na barriga de nossas mães e o cérebro é nosso aliado por toda a vida nessa batalha, mas não é ele o objetivo da nossa existência.
Poderíamos dizer que o nosso objetivo é viver!
Faça atividade física, movimente-se, pois a integração interna e externa (corpo, mente, ambiente) foi o motivo do aparecimento dos neurônios na natureza. O movimento ativa os neurônios, avisa-os que estamos vivos e precisamos continuar assim. Além disso, para qualquer atividade física usamos de modo integral todo o nosso cérebro, seja para o funcionamento dos órgãos ou para ativar as partes cerebrais responsáveis por diversas funções: equilíbrio, tomada de decisão, oxigenação e por aí vai. Desse modo, ficamos ativos e em pleno funcionamento.
Tomemos por exemplo as Ascídias, animais que vivem no mar, e que possuem duas fases na vida, a móvel e a imóvel, parada. Enquanto se locomove, tem neurônios, mas uma vez parada, sedentária, presa a um coral, onde passa o restante de sua vida, dissolve os próprios neurônios. Quer destruir seu cérebro? Fique sedentário, fique no “sofá”. Quem se esgota em pensamento, dentro de si mesmo, adoece, se deprime, se mata. “O cérebro não foi feito para se perder em si mesmo”. Filosoficamente falando, quem sobrevive é quem “dá conta” do mundo.
Sobre a relação entre o corpo, o cérebro e o ambiente através da visão e outros órgãos de percepção externa, podemos dizer que nos diferenciamos e dominamos o planeta devido a nossa flexibilidade, nossa capacidade de adaptação e tremenda sociabilidade. Para atuarmos assim, nosso cérebro precisa aprender mais com o mundo externo do que com seu próprio código genético. O ambiente em que vivemos faz a diferença e o quão exposto formos a vários ambientes (experiências vivenciais) é o que vai determinar o quão rico e saudável mentalmente podemos ser.
Sobre a interocepção, ou seja, a maneira do cérebro se comunicar com os órgãos internos (pulmão, coração, fígado, pele, bexiga, produção hormonal, estômago, intestino, célula imune etc) podemos dizer que é através das emoções, que o nosso cérebro identifica o quão bem, saudável ou não, nós estamos. Ou seja, as emoções são o guia para que o cérebro faça o seu papel: Integração, alinhamento e organização com o objetivo do corpo funcionar bem. Quando você se sente triste ou feliz, apática, animada, introspectiva, é o seu corpo dizendo ao seu cérebro quão saudável está.
A emoção é um sintoma, então aprenda a se ouvir, reconheça e perceba as emoções, pois a não integração da emoção na perspectiva de vida, torna o indivíduo disfuncional e causa o adoecimento. Importantíssimo reconhecermos todas as emoções que sentimos. Para as nossas crianças, hoje, contamos com jogos educativos que auxiliam no reconhecimento de seus sentimentos e emoções, ajudando-as a expressá-las. Isso é extremamente saudável. Devemos trabalhar com esses jogos também com idosos, com nossos homens que são de gerações anteriores, nas quais aprenderam que demonstrar emoções seria sinal de fraqueza e, talvez, adoeçam na atualidade somente por isso. Não ignore nenhuma emoção, emoções guardadas adoecem o corpo.
Valide e gerencie as suas emoções. Busque atendimento psicanalítico, que pode contribuir com a elaboração de crises existenciais ou auxiliar com as transições difíceis inerentes à vida, como luto ou crises profissionais. Também corrobora o desenvolvimento da capacidade de autogerenciamento ou de lidar com os efeitos do estresse. Pode levar ao autoconhecimento, à reflexão e à descoberta de novos modos pessoais de conduzir a própria vida, além de fortalecimento psicológico para lidar com todos os tipos de doenças.
Portanto, faça terapia, medite, viva, conheça novas culturas, se abra para o mundo, leia clássicos, assista aos filmes, que são maneiras riquíssimas de alinhamento interno, amadurecimento pessoal e aprendizagem para sabermos lidar com as grandes questões universais.
Tenha um propósito, seja grato, cuide do que é sagrado. Seguir uma religião ou cuidar da espiritualidade também pode salvar a todos nós.
Para fechar e resumir, cito Dr.Fabiano Moulin - Médico neurologista pela Escola Paulista de Medicina, em cujas ideias este texto foi baseado: “Cuide do seu corpo, cuide da sua família, cuide de seu propósito de vida, cuide de suas emoções. Esqueça o cérebro (...) Desse modo ele está lá, funcionando de sua melhor forma, como intermediário e integrador.”
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